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Set07

Hirosuke Watanuki

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Hirosuke Watanuki (activo em Portugal, 1950-1960), Lisboa – Martim Moniz Square. Bilhete postal, editado pelos Transportes Aéreos Portugueses, circulado em Dezembro de 1963.

 

Consulte a curiosa nota (em Inglês) sobre a suite do Hotel Hanakoyado (http://alimali.jp/contents/stay/hanakoyado/hotel/ehana-2.html) , em Kobe, no Japão, bem como a nota sobre Wenceslau de Moraes (1854-1929) na sua página principal.  

 

© Blog da Rua Nove

31
Jul07

Wenceslau de Moraes do Japão

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   Em Paisagens da China e do Japão (1906; 2.ª edição, 1938), no capítulo A Primavera, dedicado a Camilo Pessanha (1867-1926), escreveu Wenceslau de Moraes:

 

   "Ha alguns dias, na cidade de Kobe, – poderia precisar o dia, e quasi a hora, se tamanho rigorismo me exigissem, – irrompeu a Primavera. Irrompeu: não ha sombra de exagero no vocabulo. Irrompeu, surgiu d'um pulo, fez explosão. N'este paiz do Sol Nascente, onde o sol, e com elle todas as grandes forças naturaes, são ainda uns selvagens – se assim posso expressar-me – uns selvagens sem freio, sem noção das conveniencias, incapazes de se apresentarem de visita, de luvas e casaca, n'uma côrte qualquer da nossa Europa: n'este paiz do Sol Nascente, ia eu dizendo, a creação inteira apostou, parece, em offerecer em cada dia uma surpresa, toda ella exuberancias inauditas, espalhafatos unicos, repentismos nervosos, caprichos doidos, como se reunisse em si a quinta essencia da alma das creanças e a quinta essencia da alma das mulheres, a gargalhada, a troça, enfim, motejadora de tudo quanto é ordem, harmonia, contemporisadora lei das transições.

   Hontem, foi um inverno duro, gelido, vestido apenas d'uma ampla tunica de neve. Hoje, d'um salto, o sol rompeu em quenturas amorosas, começaram de florir as arvores, e evolaram-se os insectos. Amanhã, será o estio torrido, em brazas, como nem na China, nem na Africa se sente. E assim corre o tempo, vôam as horas; cada instante é um meteoro; e aqui um tufão arranca os troncos, e alli a chuva torrencial inunda as varzeas, e alem um rio tra[n]sborda do seu leito, e uma onda do largo afoga as aldeias, e uma convulsão subterranea abala o solo..."

 

Tamon-dori, Kobe. Kobe, 12 de Setembro de 1911 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Turcifal, Torres Vedras.

 

   Já em Os Serões no Japão (1926; 2.ª edição, 1973), no capítulo intitulado A Paisagem Japonesa, escreveu:

 

   "As florescências, naturalmente, imprimem particulares feitiços, embora efémeros, aos cenários. Em Fevereiro e Março, são as flores de ameixieira que tornam certos sítios aprazíveis. Em Abril, são as flores de pessegueiro, de cerejeira, de colza; Yoshino, Arashiyama, por exemplo, são famosas pelas suas cerejeiras. Seguem-se as flores das glicínias, das azáleas, das íris. Em Julho, são as alvas e as róseas flores de lótus, a emergirem dos charcos, das lagoas; a gente vai ouvir pela madrugada, o estranho – path! – o estalido das pétalas do lótus, no momento em que as corolas desabrocham. Em Novembro, não há flores; mas são as folhas do arvoredo que então se coloram de tonalidades brilhantíssimas; as folhas de momiji, em especial, atingem estupendas gradações, que vão do amarelo de ouro ao carmesim, ao rubro esbraseado; em Arashiyama, em Minô, em Takaó, em Shin-Takaó, na alcantilada Arima e em mil outros lugares, a paisagem alcança tons de apoteose, com a qual o povo, em magotes, se deleita. E, no entretanto, o outono é, como dizem os japoneses, inki, melancólico: – a grandeza do dia diminui a olhos vistos, definha-se a vegetação, desnudam-se as árvores, caem as folhas e morrem os insectos; a paisagem estila uma tristeza lutuosa, que infiltra desolações nas almas sensitivas.

   Um dos grandes estímulos do cenário japonês é a neve, que lança alvos mantos de pureza sobre as costas das montanhas, e salpica de arremedos de florescência os próprios pinheiros, os bambus e outras árvores que nunca floresceram. A neve é adorada e adorável no Japão; ir ver cair a neve, pelos campos fora, em meses de Janeiro e de Fevereiro, é um dos passatempos desta gente. Conta-se que um antigo imperador, sofrendo em pleno estio, da nostalgia das nevadas, mandou cobrir de cetim branco uma colina inteira, que defrontava com as varandas do palácio."

 

Cherry Blossoms at Maruyama-park, Kyoto. Kobe, 7 de Setembro de 1912 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa (reendereçado para Azeitão).

 

   "Não esqueçamos o mar. O mar, pelas suas inúmeras modalidades imprevistas, pelo seu perpétuo arfar emocionante, pelos seus murmúrios, pelos seus choros, pelos seus risos, pelos seus gritos; o mar, com o seu cortejo de barcos e pássaros, com a sua labuta piscatória, é aqui, como em toda a parte, o potente feiticeiro das cenas imprevistas, que se gravam indeléveis na memória.

   Outros estímulos da paisagem residem nas estranhas aparências atmosféricas desta terra. Frequentemente, são os tons vaporosos das neblinas, os largos horizontes cor de pérola, donde emergem contornos indeisos, como de coisas sonhadas, mas não vistas; outras vezes, é o azul vívido, cintilante, do céu, de uma pureza incomparável. Juntemos as ruborizações crepusculares, os incêndios das nuvens extravagantes, os encantos do nascer e do pôr do sol, e do luar. A enumeração das oito belezas da província de Omi, Omi-kakkei, é instrutiva neste assunto. São elas: – vista do luar do outono, em Ishiyama; a neve pela tarde, em Hirayama; o pôr do sol, visto de Seta; o templo de Midera, à tarde, na ocasião de tocarem os sinos; a partida dos barcos, largando de Yabasé; o céu brilhante e a brisa, em Awasu; a chuva durante a noite, em Karasaki; os patos bravos, recolhendo a Karata.

   Mencionemos os bichos. Em Junho, a aparição dos pirilampos, em certas vizinhanças das ribeiras, vem dar grande prestígio à cena, atraindo a multidão dos visitantes. O coaxar das rãs, em meses estivais, torna queridos outros poisos. O zumbido, o canto, o grito de outros seres, a pesca também, darão fama a outros lugares." 

 

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31
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (22)

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Wenceslau de Moraes em 1859, aos cinco anos.

O já citado Jiro Yumoto, descreveu assim, em 1936, os objectos deixados por Wenceslau de Moraes: 

 

   "Determinou-se,  por ordem do Cônsul de Portugal, vender, depois do entêrro, os livros e objectos de sua predilecção, por êle deixados, os quais, pela generosidade dos Srs. Tanigoro Yamanouchi, Saburo Fujiaki e de outros, foram arrecadados para sempre na Biblioteca Prefeitural Kokei. Os principais dêsses objectos são os seguintes:

   Uma série de livros de leitura de Instrução Primária do Japão; História da Guerra Russo-Japonesa (Edição de Hakubunkwan, Tokio); Japão Magazine (todos os números do periodo de dez anos, desde o número inicial); uma colecção completa de obras em inglês de Yakumo Koizumi; centenas de livros e revistas em português, inglês e francês; um volume de anúncios das casas comerciais e Kobe; sete ou oito volumes de diversas qualidades de Nishiki (impressão xylográfica colorida, representando geralmente costumes do povo e païsagens; caricaturas de Hokusai; uma espada japonesa; um capacete de soldado, antigo; alguns objectos ornamentais de porcelana Kutaniyaka; moedas antigas; secretária e mesa de uso habitual; estante; quadros; objectos de arte; alguns kakemonos; e outros diversos artigos de uso doméstico."

  

 

Cherry Blossoms in Akasaka-mitsuke at Tokyo. Kobe, 7 de Maio de 1910 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa. Neste postal, Wenceslau referiu: "Espero amanhã aqui, vindo de Yokohama, o cruzador "Dona Amelia". Estou pois mto. ocupado. O "S. Gabriel" não tardará."

 

 

 

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25
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (18)

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   Túmulos de Ó-Yoné e Ko-Haru, em Tokushima. Em Ó-Yoné e Ko-Haru (1923) Wenceslau de Moraes conclui assim o relato da sua visita, com Ó-Yoné, ao túmulo de Atsumori, a 20 de Junho de 1912:

 

   "Antes de nos despedirmos do logar, visitamos uma pequena venda próxima, onde uma amavel creatura offerece aos peregrinos certas refeições especiaes, em honra de Atsumori, de mistura com outras curiosidades do local. Ó-Yoné provou os acepipes e comprou pecegos deliciosos, comendo logo um, offerecendo-me outro e levando o resto para casa, rindo, feliz do seu passeio."

 

   Ó-Yoné veio a falecer a 20 de Agosto de 1912, tendo sido cremada em Kasugano, Kobe. Na sua pedra tumular foi gravada a seguinte inscrição: KAIMYO. Piedosa mulher – comparável a um vaso precioso de dizeres. Ko-Haru, tuberculosa, faleceu a 2 de Outubro de 1916 no hospital do dr. Kokawa, para onde entrara a 12 de Agosto. Sobre os últimos momentos desta musumé, e o legado de um anel de oiro que ela fez a sua mãe, escreveu Wenceslau de Moraes na supracitada obra: 

 

   "Ah! aquelle annel!... Tragica historia tinha aquelle annel!... Aquelle annel, comprado por mim havia vinte annos n'uma ourivesaria de Osaka, pertencera a outro dedo, a outra mulher [Ó-Yoné]. Fui eu quem o arrancou, ha quatro annos, a esse outro dedo, quando não era mais do que um dedo hirto, gelado, de um cadaver; e offereci-o a Ko-Haru que acabava de prestar cuidados piedosos ao corpo de uma morta querida, que ia seguir para o crematório... E agora Ko-Haru, moribunda, dispunha da unica joia que possuia, o annel de oiro, e enviava-a á mãe.

   Tragica historia a do annel, não é verdade?..."

 

   O epitáfio de Ko-Haru apresenta a seguinte inscrição: Piedosa mulher. Comparável a um magnífico quadro, traçado por um pincel primoroso e oferecido, como ex-voto, aos deuses.

 

 

Ikuta Shrine, Kobe. Kobe, 23 de Fevereiro de 1910 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa.

 

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24
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (17)

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Vista panorâmica de Tokushima. Num postal endereçado a Maria Joaquina Campos em 18 de Agosto de 1913, Wenceslau de Moraes declarava: "Estou aqui [em Tokushima] em ferias, descançando; as cartas pª Kobe são-me aqui enviadas." Dois meses depois, num postal para a mesma destinatária, datado de 8 de Outubro,  já abordava claramente a sua situação:

 

   "Quer a minha Fidalguinha que eu lhe dê notícias minhas e da minha nova situação, que não percebe. Eu lhe conto, em poucas palavras. Eu andava ha muito tempo cahido em profundo abatimento, moral e physico, sem forças pª exercer o meu cargo e com um profundo aborrecimento por tudo, por todos e por mim mesmo. N'estas condições, fiz o melhor que tinha a fazer – retirei-me da scena. – Pergunta-me qual é a minha situação. Nenhuma; e desde setº, exonerado de tudo a meu pedido, não recebo do Governo um só real. Não sou nada e não tenho nada. Mas não fique com cuidado em mim: possuo recursos sufficientes para viver uma vida modestissima, que é a que mais me convem, n'este canto de provincia japoneza pª onde me retirei. Agora, não me convinha ir a Portugal; mas espero ahi voltar dentro de poucos annos, para resolver definitivamente o que devo fazer; e então terei a grande ventura de abraçal-a." 

 

 

Beach of Suma Near Kobe. Kobe, 8 de Janeiro de 1910 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa.

 

   Neste postal, Wenceslau de Moraes refere-se a Ó-Yoné nos seguintes termos: "Quanto à minha cosinheira, Yone-san, ainda cá a tenho, sim; por signal, q cosinha bem mal." A inicial manuscrita visível na frente, que parece corresponder a um "W", corresponde na verdade a um "N", de Nicolau, designação afectuosa com que assinava os postais para esta sua correspondente.

 

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19
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (14)

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   Ó-Yoné Fukumoto em retrato fotográfico com dedicatória a Wenceslau de Moraes. Ó-Yoné, com quem Wenceslau casou em 1900, faleceu a 20 de Agosto de 1912, tendo sido o seu corpo cremado em Kasugano, Kobe. A sua morte afectou decisivamente a vida de Wenceslau de Moraes que, num postal remetido para Maria Joaquina Campos a 7 de Setembro desse ano, confessava "Eu ando mto. ocupado com mudança de casa e um tanto doente." Eventualmente, esta morte terá sido uma das causas do seu pedido de exoneração do cargo de cônsul, no ano seguinte. A sua vida parece ter atingido nesse momento um ponto de reflexão e indecisão que se prolongou durante alguns meses pois, numa carta endereçada a Jaime do Inso a 31 de Outubro de 1913, admitia: " Quanto a tornarmos a vêrmo-nos, é bem possível que se dê a hypothese que imagina, isto é, que eu volte a Portugal, donde ando ausente ha 22 annos e onde tenho uma meia duzia de amigos que desejo tornar a abraçar. Confio pois que o nosso 1.º encontro não foi o último."

   Ó-Yoné foi retratada em múltiplos textos de Wenceslau de Moraes, particularmente em Será Ó-Yoné?... Será Ko-Haru?... (1918) e Ó-Yoné e Ko-Haru (1923).  

 

(Sem Título). Kobe, 3 de Dezembro de 1909 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa.

 

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18
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (13)

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   Wenceslau de Moraes, com o seu cão ao colo, na companhia da família do Cônsul de França, Monsieur Fossarieu, em Kobe.

   Embora Wenceslau tivesse tido uma educação que essencialmente assentava em modelos literários e culturais francófonos, como era hábito na altura, não dispensava a todos os autores franceses a mesma consideração literária. Em carta datada de 21 de Novembro de 1921, teceu os seguintes considerandos sobre os seus próprios processos literários e os autores que admirava:

 

   "Agora outro assunto. O processo de escrever os meus livros resume-se em pouco: pequenas notas sem titulos, divididas umas das outras por entrelinhas, evitando as largas considerações. O ultimo capitulo (chamêmos-lhe capítulo) do ultimo livro (Mendes Pinto) é formado por duas meias linhas simplesmente. Nem eu entendo livros que não sejam assim formados por notas soltas, por apontamentos ao acaso, diarios, cadernos de impressões, etc. Neste genero literario, muitos escriptores europeus se distinguiram (Rousseau, Lamartine, etc., etc., etc.); e n'elle os escriptores japonezes de ha 500 annos e 1000 annos fôram eximios, como tentei fazer conhecer no meu livro "Bon Odori".

   O escriptor, quando escreve para alimento do seu espirito e dos raros que o possam comprehender, tem de pôr a su alama inteir ano que escreve. Vibrar todo inteiro quando se escreve e fazer vibrar o coração de todos que nos lerem. O realismo de Zola, nu e cru, não presta, fez banca rota. Quer-se mais, quer-se a nota aguda, aguda como um punhal, que nos fira e que vá ferir os outros. Nojo, colera, asco, odio, horror, amor, paixão, enlevo idolatria, desespero, tristeza, etc., etc., etc., tudo serve; o que se quer é que se exprima a impressão do que se vê com uma palpitante emotividade de sentir, de maneira a ir commover-se fortemente os leitores, pintando o que nos impressiona com côres vivissimas que nos deslumbrem. Não cuido em apresentar frases limpas e correctas; quero apontar ideias, como eu as concebo, e mais nada."

 

      O processo de escrita relatado pelo autor desenvolvera-se indubitavelmente devido ao apreço que Wenceslau manifestava pelo minimalismo japonês e pela concisão da composição poética denominada haikai (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/28941.html).

  

 

(Sem Título). Kobe, 22 de Setembro de 1909 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa (No destino, reendereçado para Azeitão).

 

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17
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (12)

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   Wenceslau de Moraes no seu gabinete de trabalho do Consulado de Portugal em Kobe. Antes de solicitar a sua exoneração como cônsul, em 1913, facto que eventualmente terá tido como causa principal  o falecimento de Ó-Yoné no ano anterior, Wenceslau de Moraes enfrentou uma grave crise financeira no consulado. Criado por proposta do governo de Macau, o consulado em Osaka (e Kobe) dependia financeiramente desta região. Certamente devido às alterações motivadas pela implantação do regime republicano, a partir de Julho de 1911 Macau recusou pagar o vencimento do cônsul em Kobe e Osaka, alegando não existir verba para tal fim no orçamento. Três meses depois, Wenceslau de Moraes viu-se obrigado a contrair, no Japão, um empréstimo para as suas despesas pessoais, facto que constituía uma desonra pública para si e para o próprio governo português, que o cônsul representava. 

 

(Sem Título). Kobe, 10 de Agosto de 1909 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa (No destino, reendereçado para Azeitão).

 

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16
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (11)

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   O-Tane San, a Senhora Semente, e O-Haru, a Senhora Primavera, as duas raparigas da Cháya de Nunobiki que Wenceslau de Moraes mencionou em Paisagens da China e do Japão (1906). Depois do encerramento da Cháya, O-Tane San desposou um compatriota e O-Haru faleceu de tuberculose. Wenceslau passou então a frequentar Suma e Nanko, para além de Nunobiki, a fim de consumir o seu chá na área envolvente dos templos. Regularmente, aos domingos saía de casa cerca das sete da manhã para ir almoçar a uma cháya, onde entre outras iguarias nipónicas consumia yakimuchi, os tradicionais bolos de feijão.

 

Foreign Concession, Kobe. Kobe, 2 de Junho de 1909 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa.

 

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16
Jul07

O Calendário Japonês

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Bilhete postal japonês, do final do período Meiji, circulado de Berlim para Lisboa em 1904. Os postais japoneses mantêm ainda hoje algumas das características tradicionais da impressão xilográfica dos séculos XVIII e XIX, que incluíam gravura em relevo, fragmentos de mica e pigmentos metalizados. Neste postal, em particular, pode observar-se o uso de pigmentos prateados.

 

   O Japão encontra-se presentemente no ano 19 do período Heisei. Isto porque o Japão ainda mantém para as suas eras um calendário, paralelo ao gregoriano, correspondente ao tempo de governação de cada imperador. O imperador Akihito (n. 1933) ascendeu ao trono em 1989, ano 1 do período Heisei, nome que o imperador receberá após o seu falecimento, de acordo com uma tradição instaurada no princípio do século XX. Anteriormente, entre 1926 e 1989, decorreu o período Shōwa, correspondente ao governo do imperador Hirohito (1901-1989). Este tinha sido antecedido entre 1912 e 1926 pelo período Taishō, a época do príncipe Yoshihito (1879-1926). O período Meiji, que veio consolidar a abertura do Japão ao ocidente nos tempos modernos, decorreu entre 1868 e 1912, durante o governo do imperador Mutsuhito (1852-1912). 

   Wenceslau de Moraes (1854-1929) viveu no Japão durante os períodos Meiji, Taishō e Shōwa. Quando os Portugueses chegaram ao Japão, em 1543, decorria o período actualmente conhecido como Muromachi ou Ashikaga (1336-1573). Sempre que estes períodos se prolongam por vários séculos, é habitual proceder-se a uma subdivisão em eras de menor duração. Assim, o período da chegada dos Portugueses ao Japão também pode ser referido como  Sengoku, uma subdivisão do período Muromachi, entre 1467 e 1573.

 

Cape of Wada. [Hyogo, Kobe]. Bilhete postal japonês do final do período Meiji que combina a fotografia com as técnicas tradicionais da impressão em relevo e (da evocação) dos pigmentos metálicos.

 

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