Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (21)
Esta planta da casa de Wenceslau de Moraes, publicada em 1933, seguia-se a uma descrição dos hábitos do autor:
"Wenceslau de Moraes tinha em casa, como os japonêses costumam ter, um oratório budista, e por detrás de uma imagem de Buda, poisando sobre uma flôr de lotus, a fotografia da sua última mulher querida; todos os dias ia ao cemitério Ohiyo-On-ji onde se demorava cêrca de uma hora falando em voz baixa em frente do túmulo de Ó-Yoné, enquanto brincava com as pedrinhas brancas que costumam vêr-se sobre os túmulos japonêses e noutros no Oriente."
Esta referência discreta ao interior da habitação de Moraes contrasta com uma descrição posterior, publicada em 1937:
"A residência do escritor, pequena e modestíssima, compunha-se de rez-do-chão e um andar e dividia-se em três compartimentos estreitos e acanhados, onde as coisas mais estranhas se amontoavam, cobertas de pó, numa desordem e num abandôno singularmente contrastantes com o irrepreensível aceio dos interiores japoneses, a que tanta vêzes aludiu nos seus livros com sincera admiração e carinho.
Na parede do quarto onde foi deposto o cadáver apareceu colado um velho pedaço de papel, de forma rectangular, já quási negro pela acção da luz, com os seguintes dizeres em português, japonês e inglês:
Em caso de minha morte é meu desejo que o meu corpo seja cremado (sujeito a cremação) em Tokushima.
Tokushima, 29 de Julho de 1913.
Wenceslau de Moraes "
Cherry Blossoms in Komuro at Kyoto. Kobe, 2 de Maio de 1910 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa.
© Blog da Rua Nove