Autógrafos - Emília de Sousa Costa
Emília de Sousa Costa (1877-1959), Quem Tiver Filhas no Mundo... (1933).
Capa de Raquel Roque Gameiro (1889-1970).
Emília de Sousa Costa (1877-1959) foi uma prolífica autora de histórias infantis e uma divulgadora empenhada da obra dos irmãos Grimm, Jakob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859), em Portugal, através da adaptação de muitos dos seus contos para a língua portuguesa. Escreveu também contos e novelas de outra índole, como os textos que integram este livro.
Parte do seu espólio encontra-se actualmente depositado no Grémio Literário Vila Realense, juntamente com o espólio do romancista, ensaísta e cronista Sousa Costa (1879-1961), que documentou, retratou e comentou a época final da monarquia bem como toda a agitação da I República. (http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/listar_detalhes.php?id=852).
Do conto 'Mater Dolorosa!', inserido em Quem Tiver Filhas no Mundo..., transcrevem-se dois parágrafos:
"Ao enfrentar o Douro que ruge e espumeja, em todo o arrebatamento da sua bravura hibernal, o Antonio não se atemoriza. Fica-se a fitá-lo, a mirar extático os ímpetos da sua corrente avassaladora que empolga e arrasta destroços de armazens ribeirinhos, de muros esboroados, de árvores arrancadas, sem dar tento de que o senhor Adrianinho já embarcára na margem oposta e por isso lhe cumpre o descavalgar. Não sente o espadanar forte dos remos com que os barqueiros valentes domam as águas, nem as vozes rijas do arrais, no comando das manobras.
De repente, quando a barca está prestes a varar a terra, o cavalo assusta-se, relincha frenético, sacode-se, empina-se em galões nervosos, arranca desvairado em sacões violentos, entra na água e, sem que alguem possa obstar à desgraça iminente, cospe o cavaeiro que, num grito de espanto, pretende filar-se lhe nas crinas e logo solto dêsse amparo, desaparece no seio das águas barrentas e não mais volta à superfície."
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