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30
Jul07

Fotobiografia de Wenceslau de Moraes (21)

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   Esta planta da casa de Wenceslau de Moraes, publicada em 1933, seguia-se a uma descrição dos hábitos do autor:

 

   "Wenceslau de Moraes tinha em casa, como os japonêses costumam ter, um oratório budista, e por detrás de uma imagem de Buda, poisando sobre uma flôr de lotus, a fotografia da sua última mulher querida; todos os dias ia ao cemitério Ohiyo-On-ji onde se demorava cêrca de uma hora falando em voz baixa em frente do túmulo de Ó-Yoné, enquanto brincava com as pedrinhas brancas que costumam vêr-se sobre os túmulos japonêses e noutros no Oriente."

 

   Esta referência discreta ao interior da habitação de Moraes contrasta com uma  descrição posterior, publicada em 1937:

 

   "A residência do escritor, pequena e modestíssima, compunha-se de rez-do-chão e um andar e dividia-se em três compartimentos estreitos e acanhados, onde as coisas mais estranhas se amontoavam, cobertas de pó, numa desordem e num abandôno singularmente contrastantes com o irrepreensível aceio dos interiores japoneses, a que tanta vêzes aludiu nos seus livros com sincera admiração e carinho.

   Na parede do quarto onde foi deposto o cadáver apareceu colado um velho pedaço de papel, de forma rectangular, já quási negro pela acção da luz, com os seguintes dizeres em português, japonês e inglês:

   Em caso de minha morte é meu desejo que o meu corpo seja cremado (sujeito a cremação) em Tokushima.

   Tokushima, 29 de Julho de 1913.

                                      Wenceslau de Moraes "

 

 

Cherry Blossoms in Komuro at Kyoto. Kobe, 2 de Maio de 1910 – Bilhete postal enviado por Wenceslau de Moraes para Maria Joaquina Campos, Lisboa.

 

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30
Jul07

Documentos - Conhecimento de Embarque de 1881

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   Conhecimento de embarque de mercadorias no vapor China, ancorado no porto de Lisboa, com destino a São Tomé. Documento datado de 2 de Novembro de 1881.

   A carga despachada por Frederico Biester para Hugo Goodair de Lacerda constava de 1 barril de banha; 1 barril de toucinho; 1 barrica de bolacha; 1 caixa de cachimbos; 1 caixa com 1 lata de azeite; 1 caixa com 4 latas de açúcar pilé; 1/2 caixa de batatas; 1/2 caixa de cebolas e alhos; 4 caixas de petróleo; 1 barrica de açúcar mascavado; 3 caixas de bacalhau; 3 grades com móveis; 1 caixa com fazendas; 1 baú com diferentes encomendas e papéis; 1 grade com 2 caixilhos de ferro; 1 caixa com vidraças; 1 caixa com comestíveis e diversos; 1 caixa com serras e limas; 1 caixa com um berço e 1 volume de estofins com plantas.

 

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30
Jul07

Macau, 1936 (XI)

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   Ocorreu-lhe, de repente, que nunca soubera responder a imensas coisas. Não soubera por que casara. Não soubera por que deixara a família. Não soubera por que deixara Boubouka. Não sabia por que ia para Macau. Deixava-se levar pela corrente... Uma atitude quase budista, pensou.

   Riu-se daquela mania de fazer evocações e criar paralelismos eruditos. Fazia-o constantemente. Era um exagero. Até o fazia para si próprio... Continuou, contudo, o exercício, não se reprimindo e lembrando-se do que o miúdo, o Saramago, tinha escrito, citando as últimas palavras do Reis: "Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo..."

   Sábio... As pessoas insistiam em confundir erudição com sabedoria... Elogiavam e apreciavam as referências supostamente científicas e as frequentes citações literárias. Simples exercício de memória, efémero fogo de artifício. De que lhes serviria a erudição, não sabendo o que queriam da vida? E aqueles que não se contentavam com o espectáculo do mundo e agiam? Até onde poderiam chegar? Tudo poderia ser uma contínua ilusão...

   Uma maior ondulação do barco agitou a mesa, fazendo tinir as chávenas de chá e lançando pequenas manchas irregulares sobre a brancura da toalha. Iam-se alargando, como gotas de chuva sobre papel. Não ficavam, no entanto, mais claras. Lembrou-se do chá Lig, na moda em Portugal. Uma hábil promoção de chá importado, aproveitando as evocações exóticas do Japão de Moraes... Como estas, também as manchas desse chá não se esbatiam. Teriam elas a mesma cor sob a toalha? Qual o seu aspecto, visto do avesso? Corresponderiam a uma outra realidade, ou seriam apenas um outro disfarce da mesma realidade, como o anagrama Gil, do chá?

   Voltou a si, surpreendendo-se, como sempre se surpreendia, com a sua facilidade para divagar sobre banalidades e para se afastar de reflexões mais importantes. O seu pensamento analógico revelava-se uma armadilha em si mesmo. Dispersava-lhe as ideias, atenuava-lhe as emoções, distanciava-o do sofrimento.

   Parecia não fazer questão em se conhecer a si próprio, nem em se preocupar com tudo aquilo que ia deixando para trás.

 

 

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