Manuel Ribeiro de Pavia
Ilustração para a capa de A Noite e a Madrugada (1950), de
Fernando Namora (1919-1989).
"(...) Nos últimos anos, alguns amigos [de Pavia], sentindo que aquele purgatório de privações começava a esvaziar-se de sentido e a adquirir o sabor mortiço a sonho coçado, tentaram convertê-lo à complacência hábil de todos nós, os prudentes do meio termo.
Mas a resposta silvava sempre igual, com o mesmo arreganho acre de asceta que não se rende (nem crê já, porventura):
– Que tem você com isso?... Sai-me do corpo!... Do meu corpo, ouviu?
E lentamente, com solenidade de passos medidos, quantas noites, depois de recusar um trabalho comercial bem pago, se fechava, sem jantar, no quarto, até às tantas, para ilustrar de graça o livro do poeta Qualquer Coisa, a quem instigava com a admiração constante de leitor ideal, ou a novela do estreante Outra Coisa Qualquer, que se destinava a apodrecer nas montras? (...)"
in José Gomes Ferreira (1900-1985), Imitação dos Dias (1966; 3.ª edição, 1977).
Reprodução póstuma de um desenho para o livro Cantigas de Circunstância (1949), de Armindo Rodrigues (1904-1993), na capa da revista Vértice, números 424-425, de Setembro/Outubro de 1979.
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