Monserrate e o Exotismo Arquitectónico de Oitocentos em Portugal
Palácio Monserrate – Cintra – Portugal. Bilhete postal do início do século XX
Os jardins e o Palácio de Monserrate, propriedade que entrou na posse do Estado Português em 1949, surgem como expoente máximo do exotismo arquitectónico executado em Portugal durante o Romantismo.
A propriedade, inicialmente arrendada por Gerard Devisme, em finais do século XVIII, foi subsequentemente arrendada a William Beckford (1760-1844) e visitada por Lord Byron (1788-1824), que a descreve no seu longo poema Childe Harold's Pilgrimage (1812-18). (Sobre uma referência a Sintra na correspondência de Byron, ver http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/28505.html.)
Contudo, foi na segunda metade do século XIX, quando o visconde Francis Cook (1817-1901) adquiriu a propriedade, que esta atingiu o seu apogeu e o palácio ficou com o aspecto actual. Deve-se o projecto deste palácio (1858) ao consagrado arquitecto, editor e autor inglês James Knowles Jr. (1831-1908), tendo-se a sua construção desenrolado entre 1860 e 1863. Anote-se que Knowles Jr. veio a desenhar, na década seguinte, a famosa casa Aldworth para o célebre escritor Alfred (Lord) Tennyson (1809-1892).
Os jardins e os lagos foram também objecto de particular atenção e desenho específico, que visou integrar espécies botânicas não-endémicas previamente transplantadas na propriedade.
Cintra. Monserrate. Bilhete postal do início do século XX
O traçado do Palácio de Monserrate tem a particularidade de incorporar elementos arquitectónicos frequentemente associados à arquitectura hindú, um aspecto que não é comum na arquitectura do período romântico em Portugal. Com efeito, o ressurgimento do interesse pelo exotismo oriental que, embora de longa data na Europa do sul, se pode fazer recuar, a curto prazo, na Europa central e setentrional, às campanhas napoleónicas no Egipto, exprimiu-se em Portugal por um decorativismo associado à arquitectura muçulmana, numa evidente recuperação de elementos da cultura mudéjar.
PORTO – 7 – PALÁCIO DA BOLSA – SALÃO ÁRABE. Bilhete postal da década de 1950
Surgem, assim, o sumptuoso Salão Árabe do Palácio da Bolsa (iniciado em 1842), no Porto, bem como o impressionante átrio da actual Casa do Alentejo, em Lisboa, que na década de 1920 alojava o famoso Club Monumental. Ainda em Lisboa, é notável a fachada da Casa de Macau, ao Príncipe Real.
Casa do Alentejo. Lisboa
Já no final do século XIX, num período em que se começa a verificar um acentuado revivalismo do Manuelino, parcialmente associado às comemorações do quarto centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia, surge ainda em Lisboa a monumental Praça de Toiros do Campo Pequeno, projectada por António José Dias da Silva (1848-1912) e inaugurada em1892.
Praça de Toiros do Campo Pequeno e escultura da exposição Cow Parade (2006)
No início do século XX as influências orientalizantes desapareceram quase por completo, encontrando-se ainda alguns resquícios destes elementos no edifício do Mercado de Loulé (1908), bem como em outros edifícios privados disseminados por todo o país. Durante a década de 1920, já em pleno período Art Déco, voltam a recuperar-se elementos orientalizantes da cultura egípcia, particularmente nas artes decorativas, devido à descoberta do túmulo de Tutankhamon, em 1922.
Palácio de Monserrate
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