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Jun07

Macau, 1936 (III)

blogdaruanove

Caïro, cerca de 1936

 

   Boubouka sorriu quando regressou e viu  a chaleira de cobre colocada sobre a mesinha. "Hmmm, chá de menta..." Encontrara-o de bruços, sobre o leito, ainda completamente vestido. Tivera tempo de preparar a infusão e de beber um pouco, mas sucumbira logo depois. Junto da mesinha, o narguilé, na sua verticalidade bojuda, parecia um sacerdote. O sagrado sacerdote do silêncio. Hierático e digno, depois do sacrifício. Ao lado, no chão, uma das suas últimas obsessões, o Culto do Chá, do velho Wenceslau, aberto como uma tenda. Soubesse ela Português e teria achado irónica a passagem das páginas em que o livro ficara aberto – "Aponta-se-lhe mais outros condões: excita ligeiramente o organismo, combate o cançaço das vigilias, predispõe ao bem estar, infiltra no cerebro nao sei que subtil embriaguez, lucida todavia, que nos torna mais affectivos ás sensações de agrado e mais aptos ás elaborações do pensamento." 

   Assim, ficou-se apenas pelo pensamento, igualmente irónico "Menta... não é suficientemente forte para ressacas, habibi..." Voltou a colocar o véu e saíu, dirigindo-se para o souk. "Tamr hindi, precisas é de um bom trago de tamr hindi, querido..."

   Quando regressou, envolta no aroma das especiarias, encontrou-o já na varanda, alheio ao ruído da cidade e aos apelos do muezzin. Sorriu-lhe docemente, recebendo dele um olhar embaraçado... "Fiz chá de menta...", disse ele num sussurro. Boubouka sorriu ainda mais, e mostrou-lhe uma mão cheia de tamarindos. "Precisas de algo mais forte, habibi..." Ele ainda lhe começou a traduzir Wenceslau, querendo evocar as virtudes e condões do chá. Sabes, diz aqui que "O chá japonez tem a virtude de mitigar a sêde. Assim se explica o habito dos japonezes não beberem agua; mesmo na força dos calores, em pleno agosto, a chavena de chá, saboreada a goles, lhes dá pleno consolo..." Mas o sorriso dela deixou-o sem vontade de argumentar. "Precisas de uma bebida fresca, ácida e estimulante, habibi. Não estamos no Japão. Confia em mim, deixa-me tomar conta de ti..."

 

Photo © Solil

 

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