Rafael Bordalo Pinheiro
Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) promoveu a publicação de diversos jornais satíricos em Portugal e no Brasil (1875-1879). Em Portugal, os mais famosos foram O Antonio Maria (1879-1885; 1891-1898), Pontos nos ii (1885-1891) e A Parodia (1900-1906), este último já com preponderante colaboração de seu filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920).
O Antonio Maria deve a sua designação ao nome próprio do célebre político António Maria Fontes Pereira de Melo (1819-1887; primeiro-ministro, 1871-1877, 1878-1879 e 1881-1886), figura insistentemente criticada e caricaturada por Bordalo, como se observa, por exemplo, no primeiro número de Pontos nos ii (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/68568.html), onde Fontes Pereira de Melo surge como "immortal" e novamente, mais abaixo, na mesa de trabalho do "incorregivel" Bordalo.
A figura da viúva do António, a Maria, que abre o número programa de Pontos nos ii (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/68329.html), já tinha surgido anteriormente em O Antonio Maria e tornou-se posteriormente numa das célebres figuras reproduzidas em cerâmica por Bordalo Pinheiro, na sua fábrica das Caldas da Rainha.
A crítica política era actual e impiedosa, como se pode verificar na contundente referência à questão colonial de Lourenço Marques e Moçambique (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/69043.html), a qual se vinha arrastando desde a década de 1870. Eventualmente, esta crise transformar-se-ia numa das razões, indirecta mas não menor, para o Ultimatum inglês de 1890, apesar do anterior acordo, estabelecido e arbitrado em 1875 pelo presidente francês Mac Mahon (1808-1893), sobre esta questão, que os ingleses designaram como De Lagoa Bay.
"Loïe Fuller deu-nos tambem nas suas maravilhosas danças, uma
delicada alusão ao Convenio" (1902)
Estas publicações de Bordalo Pinheiro reflectam, ainda, a realidade cultural de Lisboa e do país, com frequentes referências ao teatro e à ópera, nacional e internacional, às Belas-Artes, à literatura e a outras manifestações artísticas e intelectuais, pelo que o célebre Álbum das Glórias acabou por ser um corolário lógico das preocupações e dos interesses do autor. Artistas e actrizes consagradas, como a americana Loïe Fuller (1862-1928), acima, a japonesa Sada Yacco (1872?-1946) e a francesa Sarah Bernhardt (1844-1923), abaixo, foram frequentemente caricaturadas e referidas por Bordalo Pinheiro.
Embora Bordalo Pinheiro tenha, desde sempre, congregado outros colaboradores nas suas "folhas humorísticas", particularmente no que diz respeito aos textos, o agravamento do seu estado de saúde levou a que, essencialmente a partir de A Parodia, seu filho Manuel Gustavo assumisse maior responsabilidade nos desenhos e caricaturas da publicação. Manuel Gustavo alargou, ainda mais, o espaço dedicado a novos colaboradores, como foi o caso de Celso Hermínio (1871-1904), autor de inúmeras primeiras páginas, desenhos e caricaturas, incluindo a de Sada Yacco (1902), abaixo reproduzida, e do menos conhecido Pedro Cid (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/37011.html).
"Sarah Bernhardt cahindo em Lisboa como uma agulha num palheiro." (1882)
© Blog da Rua Nove