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Jun07

Autógrafos - Alice Ogando

blogdaruanove

 

Alice Ogando (1900-1981), Marias da Minha Terra (1934)

Capa de Luís Dourdil (1914-1989)

 

 

Alice Ogando (1900-1981)

   Tradutora e autora de inúmeros originais e adaptações de teatro que marcaram a rádio portuguesa até ao início da década de 1970. Embora tenha publicado alguma poesia, foi de facto na produção de dramaturgia radiofónica que Alice Ogando se salientou durante décadas. Esteve casada com André Brun (1881-1926).

   Do seu volume Marias da Minha Terra (1934) transcrevem-se duas poesias, que evidenciam claramente a proximidade da autora face à política nacionalista do Secretariado de Propaganda Nacional, fundado um ano antes:

 

Maria da Conceição 

 

Maria da Conceição,                              Teu corpo, só bem se ageita

Vi-te ontem na procissão                        Á larga saia bem feita

E duvidei do que via,                              Que ás formas te dá esbelteza,

Pois quando por ti passei,                       E na cabeça formosa,

Olho em volta e... – reparei                  Em vez d'um chapeu de rosa,

Que toda a gente se ria                           A chita bem portuguesa.

 

De ti. Sim, de ti, cachopa,                       Desce dos saltos, donzela

Seja embora a tua boca                          E calça atua chinela

Vermelha como a romã,                         Que tanto te alinda o pé.

Embora a face trigueira                           A gente deve, na vida,

Tenha um rosado á maneira                    Não andar nunca iludida,

De saborosa maçã,                                 E ser apenas quem é.

 

Embora o corpo delgado                        Maria da Conceição,

Lembre um lírio delicado                        Sai-me já da procissão,

E tenhas um lindo olhar,                          Pois até nosso Senhor

Eu juro que foi de ti,                               Se te vê d'essa maneira,

Que todos riram e eu ri                           Sendo embora de madeira

Quando te vimos passar.                         Pode fugir do andor...

 

Maria da Conceição,                               Calça a chinelinha, calça.

Ou tu perdeste a razão,                            Põe o lenço de Alcobaça,

Ou então foi bruxaria!                              E a saia de flanela,

Um chapeu n'essa cabeça!                       Teu negro chal' de tricana

Mas tu queres que eu endoideça,           Pois tu és ribatejana!

Oh! minha pobre Maria                            Pois tu, Maria, és aquela

 

Da Conceição?! mas que horror...            Nascida nesta paisagem,

e dize cá, por favor                                  Creada com esta aragem

Quem te vestiu esse fato,                          Que faz a mulher formosa,

Que o corpo te escangalhou,                     E em paisagem bravia,

Que as ancas te deformou,                        Nunca pode ir bem, Maria,

dando-te um vago ar de pato                    Esse chapeu, essa rosa.

 

Marreco! Ai, não, Maria,                          Volta depois. Sem vaidade.

Decerto ninguém diria                                Eu amo a simplicidade,

Vendo-te na procissão,                             Gosto de ti sem mentira,

Que tu és certa pequena                            Sem pose, sem presunção,

De linda cara morena,                                Maria da Conceição

Maria da Conceição!                              De Vila Franca de Xira!

 

 

Marias da Minha Terra

 

Essas Marias tafues                                   E aquela que vindima                    

Que passeiam no Chiado                           Desde manhã ao sol pôr

Com seus vestidos azues                            A quem o trabalho anima

E pesito bem calçado,                                Por amor do seu amor

 

As unhas côr de tomate,                            Essa que lava cantando

Sobrancelhas a carvão,                             Cantigas ao desafio,

A linda bôca escarlate                               Suas máguas segredando

E vazio o coração,                                    Ás verdes águas do rio.

 

Não são como tu, Maria,                          Aquela de loira trança

– Marias da minha terra –                         Como uma espiga doirada,

da Senhora da Agonia                              Que sonha amor e esperança

E mais do Senhor da Serra,                       Em noite de desfolhada.

 

Do Penedo da Saudade,                            E tu, Maria da Graça,

Das eiras, da desfolhada,                           E tu, Maria do Ceu,

São Marias da Cidade,                              Que ninguem na aldeia calça

– Não são Marias nem nada.                     Sapatinho igual ao teu,

 

Tu sim, que passas airosa                           Marias todas verdade,

Minha linda moleirinha                                Marias só – coisa pouca –

Mais branca que a branca rosa                   Apenas simplicidade,

Tão branca como a farinha.                        Coração ao pé da boca.

 

E tu, que passas ligeira,                               Marias que passam vidas

De tamanquinha no pé,                                Inteirinhas a rezar

A Maria mais trigueira                                 Pelas alminhas perdidas

Da praia da Nazareth.                          Por sôbre as águas do mar.

 

Essa de saia rodada                                    Quiz cantar o vosso encanto,

Como uma rosa em botão,                          Toda a alegria que encerra

A quem já vejo brilhar                                 Este nome, que é um canto

Nos olhos, o coração.                                 Em louvor da nossa terra!

 

Alice Ogando, Bonecas e Pinguins (Teatro, 1931)

 

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