A Arte Gráfica em Portugal - Século XX
Carlos Botelho (1899-1982)
Desenho para a capa metalizada e ilustrações de The Children's Book (c. 1935), de António Botto (1897-1959).
© Blog da Rua Nove
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Carlos Botelho (1899-1982)
Desenho para a capa metalizada e ilustrações de The Children's Book (c. 1935), de António Botto (1897-1959).
© Blog da Rua Nove
António Botto, Canções (1932).
Capa de Fred Kradolfer (1903-1968)
António Botto (1897-1959).
Poeta marginal e marginalizado, em parte pela frontalidade com que assumiu a sua homossexualidade, Botto viu a primeira edição de Canções ser publicada no início da década de 1920 pela Olisipo, a efémera editora criada por Fernando Pessoa (1888-1935). Pessoa e José Régio (1901-1969), aliás, foram dois admiradores confessos da obra de Botto, tendo elaborado estudos sobre a mesma. Poeta contemporâneo do primeiro Modernismo e do movimento Orpheu, Botto desenvolveu sempre uma modernidade autónoma, criando um espaço literário peculiar que de modo algum assenta exclusivamente no declarado e óbvio conteúdo homoerótico de muitos dos seus poemas. A actualidade e modernidade da sua poesia ainda hoje são características evidentes para o leitor contemporâneo. Tendo-se auto-exilado no Brasil em 1947, aí acabou por falecer, atropelado. As suas obras mais conhecidas serão, eventualmente, As Canções de António Botto (edição completa, 1941), na poesia, e Os Contos de António Botto, para Crianças e Adultos (1942), na prosa.
Um pequeno excerto de uma canção de António Botto, lido por José Rodrigues Miguéis (1901-1980) e gravado para a Smithsonian Institution, pode ser ouvido em:
http://www.smithsonianglobalsound.org/trackdetail.aspx?itemid=31889
Da edição de 1932 do volume Canções transcrevem-se abaixo três poemas, respeitando-se a grafia original.
Livro Terceiro, Piquenas Esculturas - Segundo Poema
Erguem-se vozes.
O clamôr, a barafunda
Vae avultando
No silencio da senzála.
E o batuque principia...
Ei-los,
- São quatro tentações de maravilha!
Bronzes
Da mais bela estatuária romana.
E o batúque
Principia
Depois de cobrirem o sexo
Com folhas de bananeira.
O luár cahe, muito quente, gorduroso,
Na areia que escalda...
Ó tropical e excitante bebedeira!
E bailam -
Cantando
Uma lenta melopeia de bruxêdo,
- Só duas notas - diabólica, tristonha.
Um,
Com olhos de prisioneiro amoroso
E dextreza de gentil gladiador,
Não me larga - olha sempre!
E a sua bôca
Entreaberta num sorriso,
Parece um fructo de lúme
Com bagos de prata.
Aos quadris
Atáram guizos,
Ferraduras, e chocalhos,
Moédas, raizes,
Ramarias em flôr,
Manipanços,
E contas de velho marfim doirado.
E o batúque não acaba...
Cáio na areia cansado...
Livro Terceiro, Piquenas Esculturas - Décimo Primeiro Poema
Acabemos.
E acabemos para sempre.
Continuar, para quê?
Nem uma palavra amiga,
Nem um sorriso,
Nada
Que dê conforto ou prazer...
Não, acabemos...
Ou acabar..., - ou morrer.
Livro Quarto, Olympiadas - Poema Segundo
Eil-a!...
Tu..., avança! - Lá váe ela!
Corre!...
- Atira-te com alma!...
Defende-a... - vamos!, - então?
E a bola, ao entrar nas redes,
Suspendeu a alegria muscular
E a juvenil vibração.
Estoiram as aclamações;
E a luz do sol enfraquece.
Mas, o jogo, novamente principia:
Os "vermelhos"
Vão envolvendo os "leões";
E o ataque
Bem marcado,
Vae revelando a victoria
Que, - desenhada e conduzida
Com rasgos da mais limpida nobreza
Atinge o seu maximo valôr:
- A bóla, rapida, cahe,
Passando
Por entre os braços erguidos
Do garboso jogador.
Palmas, delírio, - grandeza!
Alguem atira uma rosa
Para os "onze" vencedores.
E ao longe o sol agonisa
Numa bohemia de côres.
© Blog da Rua Nove