Blueish Grains of Green
Lentamente, as nuvens rodearam a montanha. Ameaçadoras, juntaram-se, tornando-se numa só. Perdendo a claridade, toda a luz se tornou baça. Os contornos do horizonte esbateram-se. A serra do Brunheiro transformou-se num manto de escuridão. Um manto de escuridão entretecido num negro monte de nuvens.
A chuva, pesada e sonora, começou a cair, cobrindo árvores e arbustos. Velhos carvalhos e olmos, dobrando os ramos, levavam a água a cair em movimentos graciosos. Por pouco tempo. As grossas gotas de água pareciam ondas de um mar tormentoso rebentando sobre a floresta. As copas largas dos castanheiros centenários criavam um santuário que parecia afastar a violência daquela torrente interminável.
Sob a vasta copa de um velho castanheiro, pequenos blocos de granito resistiam a uma água que parecia querer diluir as rochas como se fossem frágeis pedras de sal. No tronco, viradas a norte, manchas aveludadas de musgo mostravam a irregularidade do seu recorte, por entre matizes de castanho e verde. No chão, folhas douradas, ainda ressequidas, tentando resistir, desfaziam-se ruidosamente sob o embate da água. Tudo parecia sucumbir àquela sombra imensa e aquosa.
E de repente, num instante mágico sugerindo a eternidade, um pequeno raio de sol perfurou aquele céu basáltico, reflectindo-se na mica e no granito, iluminando o tronco virado a norte. Naquele instante, na brevidade daquele instante preciso e eterno, suavemente depositadas no musgo, as gotículas de humidade rebrilharam. Rebrilharam como jamais voltariam a rebrilhar.
Sentindo a rugosidade do granito no umbral da porta do casebre, o velho aspirou a humidade do ar. Voltando as costas à chuva, fechou a porta atrás de si, tacteando o caminho de volta para junto da lareira. À luz do fogo, os seus olhos, afundados nas órbitas e perdidos nas pálpebras, pareciam sorrir.
Ainda lhe restava a imaginação.
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