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20
Dez07

Manuel Ribeiro de Pavia

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Ilustração para a capa de A Noite e a Madrugada (1950), de

Fernando Namora (1919-1989).

 

   "(...) Nos últimos anos, alguns amigos [de Pavia], sentindo que aquele purgatório de privações começava a esvaziar-se de sentido e a adquirir o sabor mortiço a sonho coçado, tentaram convertê-lo  à complacência hábil de todos nós, os prudentes do meio termo.

   Mas a resposta silvava sempre igual, com o mesmo arreganho acre de asceta que não se rende (nem crê já, porventura):

   – Que tem você com isso?... Sai-me do corpo!... Do meu corpo, ouviu?

   E lentamente, com solenidade de passos medidos, quantas noites, depois de recusar um trabalho comercial bem pago, se fechava, sem jantar, no quarto, até às tantas, para ilustrar de graça o livro do poeta Qualquer Coisa, a quem instigava com a admiração constante de leitor ideal, ou a novela do estreante Outra Coisa Qualquer, que se destinava a apodrecer nas montras? (...)"

 

in José Gomes Ferreira (1900-1985), Imitação dos Dias (1966; 3.ª edição, 1977).

 

  

Reprodução póstuma de um desenho para o livro Cantigas de Circunstância (1949), de Armindo Rodrigues (1904-1993), na capa da revista Vértice, números 424-425, de Setembro/Outubro de 1979.

 

© Blog da Rua Nove

06
Dez07

Manuel Ribeiro de Pavia

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Ilustrações para Retalhos da Vida de um Médico (3.ª edição, ampliada, c. 1953), de Fernando Namora (1919-1989).

 

   "Final.

 

   E lá ficaste no Alto de S. João, Manuel Ribeiro de Pavia, onde, por mais que me esforce, não consigo ver-te deitado como os outros mortos... Mas de pé!

   Foi aliás em lembrança dos homens de raiz inteira como tu, Manuel Ribeiro de Pavia, que nos cemitérios se plantaram ciprestes, direitos, erectos, firmes... E solitários, também. Sozinhos. Como tu. Na morte e na vida.

   Tu que tiveste a coragem de transportar, desde a infância, essa tremenda solidão que nunca transformaste em bandeira de angústia e desespero, mas na mão quente dum protesto de dádiva completa contra os dominadores e pitosgas do mundo, diante dos quais nunca dobraste a espinha – Manuel Ribeiro de Pavia."

 

in José Gomes Ferreira (1900-1985), Imitação dos Dias (1966; 3.ª edição, 1977).

 

 

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15
Nov07

Manuel Ribeiro de Pavia

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Ilustrações para Retalhos da Vida de um Médico (3.ª edição, ampliada, c. 1953), de Fernando Namora (1919-1989).

 

   "(...) Confesso que este Pavia, mesmo com as duas faces justapostas – que só por abstracção de ódio ou apologia inepta se podem separar – , nunca me interessou. O outro, sim. O combatente de um Sonho de Arte-maior-do-que-ele, ao qual sacrificou tudo: vida, bem-estar, saúde, amor e porventura até o próprio Sonho... E o vagabundo, arrastado desde a infância por um fogo de Aventura que nenhum vento conseguiu apagar e se adivinhava em cada gesto, em cada praga, em cada sorriso, em cada sarcasmo, em cada olhar de desprezo com que fulminava o Universo, quando descia o Chiado, imponente e ágil, sem cinco réis na algibeira rota de príncipe.

   Admirável Pavia!, inventor de quimeras e devorador encantado de poemas, tão diferente de alguns badamecos que por aí andam, cobertos de musgo pilha, a fingirem de artistas... E afinal, à hora da morte, que deixam?... Sim, que deixam?... Nem obra nem vida. E muito menos esta bagatela qur transcende às vezes a própria obra e constitui como que o segredo da imortalidade, alcançada por poucos à custa de incêndio, de cólera, de fome, de dor, de paixão nua: dar-se ao mundo como matéria-prima para um mito.

   De súbito, o Domingos Monteiro entrou na sala, confrangido de desânimo.

   – Chamou-me para me pedir que não o deixasse morrer – disse.

   Arrepio de lágrimas em muitos olhos.

   Em todos, menos nos meus. Eu não choro. Não quero passar dias e dias com remorsos de ter aproveitado este pretexto para chorar por mim."

in José Gomes Ferreira (1900-1985), Imitação dos Dias (1966; 3.ª edição, 1977).  

  

 

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01
Nov07

Manuel Ribeiro de Pavia

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Capa e ilustrações para Retalhos da Vida de um Médico (3.ª edição, ampliada, c. 1953), de Fernando Namora (1919-1989).

 

   "(...) [Pavia] Conheceu-me? Nenhum sinal. Alheamento completo – que coincidia aliás com a carapaça de dignidade indiferente que ostentava em certas ocasiões de solenidade imprevista, para disfarçar não sei que frustração.

   Estou a lembrar-me daquela vez em que me convidou para posar para um retrato e me apareceu, neste mesmo sítio, de roupão e boca de enjoo austero, a comer um prato de papas... Tão frio e distante. Mas agora era talvez a morte que lhe gelava as feições. Ou – quem sabe? – o pudor de vergonha de se mostrar vencido diante dos amigos, ele que sempre se vangloriara de dominar a  doença, e a morte, e o destino, a pontapé.

   – À patada, Zé Gomes. À patada! Com tratamento de cavalo.

   Pobre Manuel Ribeiro de Pavia que só sabia amar as coisas do mundo através da comédia do desdém!"

 

in José Gomes Ferreira (1900-1985), Imitação dos Dias (1966; 3.ª edição, 1977).  

 

  

 

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09
Ago07

Centenário do Nascimento de Manuel Ribeiro de Pavia

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Ilustração para a capa de Gaibéus (1.ª edição, 1939; presente edição, 1948) de Alves Redol (1911-1969).

 

   Ao longo deste ano comemora-se o centenário do nascimento de Manuel Ribeiro de Pavia (Pavia, concelho de Mora, 19 de Março de 1907 - Lisboa, 19 de Março de 1957). 

 

Reprodução da ilustração anterior, publicada postumamente na capa da revista Vértice, número 258, de Março de 1965.

 

   O município de Mora celebrará este centenário com uma exposição itinerante da sua obra, a partir de Outubro, e com a edição de um livro sobre o artista, em Dezembro.

 

 

Capa e ilustrações para Retalhos da Vida de um Médico (1949), de Fernando Namora (1919-1989).

(Ver a capa da 5.ª edição em http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/11140.html.)

 

   

 

Durante as próximas semanas, divulgar-se-ão regularmente  algumas ilustrações deste autor, com exemplos que variam entre um belíssimo lirismo gráfico, como aquele ilustrado ontem, e um protagonismo vigoroso, fundamental, e igualmente belíssimo (veja-se a ilustração para a capa de Vila Adormecida, dentro de duas semanas) no grafismo neo-realista.

 

 

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04
Abr07

Autógrafos - Fernando Namora

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Fernando Namora (1919-1989), Retalhos da Vida de um Médico (1949; 5.ª edição, 1955)

Desenhos e capa de Cambraia (datas desconhecidas) 

 

 

Fernando Namora (1919-1989).

   Médico por formação, Fernando Namora é um dos autores que habitualmente se associam ao neo-realismo, quer nas suas obras iniciais, de temática rural, quer nas suas obras posteriores, de temática urbana.

   A temática rural das suas obras retrata quase autobiograficamente a experiência da prática médica na província, particularmente em Retalhos da Vida de um Médico. Esta compilação de contos foi ampliada em 1963. Adaptada ao cinema por António de Macedo (1910-1994), em 1962, originou ainda uma série realizada em 1980 por Artur Ramos (1926-2006) e Jaime Silva (n. 1946). Artur Ramos adaptou ainda ao cinema A Noite e a Madrugada (1985), o romance que Namora publicara em 1950. Também o romance Domingo à Tarde (1961), galardoado com o prémio José Lins do Rego, foi adaptado ao cinema em 1966, por António de Macedo (n. 1931).

   Namora esteve ainda no centro de uma polémica literária, quando Luiz Pacheco (n. 1925), na sua obra Textos de Guerrilha (1979 e 1980), o acusou de plagiar passagens do romance Aparição (1959; Prémio Camilo Castelo Branco), de Vergílio Ferreira  (1916-1996), no seu romance Domingo à Tarde (1961; Prémio José Lins do Rego).  

 

 

   De Retalhos da Vida de um Médico, transcrevem-se os dois primeiros parágrafos do conto Um Homem do Norte:

   "O homem do Norte é, para o alentejano, o galego. O galego que veio de longe, com a sua iniciativa e a sua miséria, desbravar as desoladas charnecas do Sul. as vilas e as herdades cresceram com a ajuda desses emigrantes, e o alentejano, lento, inviolável, não esquece mais o melindre de ter sido empurrado pela perseverança dessa gente que veio de lugares onde um homem, de pernas alargadas, assenta um pé em cada courela. São galegos. Galegos que vieram comer o pão e colher alguns dos frutos da planície imensa, das distâncias sem limites, onde os olhos se dilatam de horizonte e a melancolia cresce como os lagos trigo. Os alentejanos têm na memória os matos que chegavam à soleira da porta, os minguados farrejiais que ninguém pensava em alargar, mas não perdoam que outros tenham colaborado na conquista da terra. Ainda hoje, quando chegam os ranchos do norte, já raros, chegam como inimigos: o camponês alentejano encara-os como competidores do salário, o comerciante aborrece esses miseráveis que disputam um centavo, contentando-se com broa e saramagos, que se assustam com a vizinhança de cafés e cinemas; e até o lavrador, que deles precisa e os chamou, vê neles uma raça de servos.

   O médico, que é quase sempre do Norte, o professor, e sobretudo o que veio nos tempos da conquista da planície e se fixou, gozando uma posição à custa de nervos e economia, encontraram nos mais inesperados momentos um insulto que representa uma nódoa desgraçada: galegos!"

 

 

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