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04
Fev08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Jarra em vidro "doublé" branco transparente, no exterior, e branco opaco, no interior, soprado livremente, com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". O interior da peça, entre as duas camadas de vidro, foi decorado com tinta de várias cores, evocando a decoração millefiore. Peça possivelmente produzida na Marinha Grande ou na fábrica da Rua das Gaivotas, em Lisboa. Década de 1950.

 

   Em Portugal, durante o final do período Art Déco, surgiram ainda algumas peças com características decorativas específicas, representando uma ínfima parte da totalidade da produção vidreira nacional.

   A jarra reproduzida acima ilustra algumas dessas características particulares, nomeadamente a camada de vidro branco no interior conjugada com a decoração "casca de cebola" no exterior.

   A decoração produzida entre as duas camadas de vidro abandonou também a usual técnica da tinta escorrida, apresentando antes um efeito que evoca a famosa técnica millefiore (uma técnica de características diferentes, muito mais elaborada e morosa, que conjuga diversos filamentos de vidro, com cores distintas, cortados e colocados lado a lado para reproduzir um efeito floral), característica da produção vidreira italiana.

  

Pequena caixa em prata com tampa de vidro apresentando a decoração millefiore. Peça produzida em Itália. Década de 1990.

 

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01
Fev08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Grande solitário em vidro ametista, soprado livremente, com superfície exterior mate, tratada a ácido, e decoração, pintada à mão, a esmalte branco e ouro. Peça produzida na Fábrica-Escola Irmãos Stephens, Marinha Grande. Início da década de 1970.

 

 

 

   Ao longo da década de 1960 a indústria vidreira nacional produziu ainda várias peças com a tradicional pintura manual a esmalte, mas novas peças de formatos mais próximos do inovador design escandinavo começaram a ser produzidas, colocando uma vez mais a tónica no aspecto escultural do próprio objecto.

   Novas técnicas acompanhavam essa produção, particularmente aquela que permitia obter no vidro de diversas cores um efeito "craquelé" transparente, um efeito decorativo que marcou a década de 1960 e surgia frequentemente nas jarras, nos copos e nos baldes de gelo.

   No entanto, surgiam ainda, em simultâneo com essas peças de design contemporâneo da década de 1960, e na década seguinte, fomas e decorações que evocavam influências de anteriores estilos e de outras culturas.

   A consagrada Fábrica-Escola Irmãos Stephens, localizada na Marinha Grande, produziu durante a década de 1970 jarras semelhantes à reproduzida acima, conforme se pode verificar no seu catálogo. Embora esse catálogo apenas registe um tamanho único para este formato - demominado Burma e concebido por Carmo Valente (n. 1930), conhecem-se solitários com duas dimensões diferentes, sendo aquele que consta do catálogo o de menores dimensões.

   Este solitário, cuja decoração se afasta das peças originais deste formato, com vidro de diversas cores mas sem qualquer gravação ou complemento a esmalte, evoca claramente algumas peças do Médio Oriente na sua forma e remete directamente para a decoração floral de arabescos que, conforme ficou documentado numa ilustração anterior, também tinha sido usada durante o período Art Déco.

 

 

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31
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Jarra em vidro branco transparente, moldado, com aplicação de partículas de vidro verde na superfície exterior e dourado.  Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1940 ou 1950.

 

   A fase final do período Art Déco na indústria vidreira nacional caracterizou-se pela utilização acentuada de uma inovadora técnica decorativa – a aplicação, no exterior das peças, de particulas coloridas de vidro que se fundiam com o vidro branco transparente moldado e conferiam à superfície dos objectos uma textura rugosa mas suave ao tacto.

   Como é óbvio, esta técnica conferia às peças não apenas uma decoração em relevo com cintilações particulamente contrastantes entre a superfíe inferior do branco transparente e o exterior colorido, mas também uma característica particularmente atraente devida ao jogo de luz e sombra assim obtido.

 

   

Jarra em vidro branco transparente, moldado, com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola" e posterior aplicação de partículas de vidro vermelho na superfície (à esquerda). Jarrinha em vidro branco transparente, moldado, com aplicação de partículas de vidro rosa na superfície exterior e dourado. Peças provavelmente produzidas na Marinha Grande. Década de 1940 ou 1950.

 

   Esta decoração era habitualmente aplicada sobre o vidro branco transparente, mas surgia também, em menor escala, aplicada sobre vidro com acabamento "casca de cebola". As partículas coloridas eram essencialmente amarelas, rosadas, vermelhas e verdes, encontrando-se ainda superficies acabadas a azul ou a preto.

   Na maioria dos casos, a decoração destas peças era também complementada com pormenores a ouro, normalmente filamentos ou faixas de espessura variável, que acentuavam a forma do objecto e os jogos de luz e sombra.

 

Copo em vidro branco transparente, moldado, com aplicação de partículas de vidro amarelo na superfície exterior e dourado.  Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1950 ou 1960.

 

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30
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Garrafas licoreiras em vidro branco transparente, moldado, com bases e tampas em vidro colorido transparente, estas últimas lapidadas. Peças provavelmente produzidas na Marinha Grande. Década de 1940 ou 1950.

 

   As vantagens do vidro moldado foram particularmente exploradas em garrafas licoreiras, que não apresentavam outra decoração senão a própria forma e a combinação de duas cores, apresentando um toque particularmente elegante nas tampas coloridas e lapidadas, uma imagem características da indústria vidreira nacional durante o período Art Déco.

   Já nas décadas de 1950 e 1960 voltou a recorrer-se com maior insistência à combinação da cor e da forma complementadas com motivos gravados no vidro. Estas garrafas licoreiras eram acompanhadas por um conjunto de seis, por vezes doze, copos com as mesmas características

 

Garrafa licoreira em vidro branco transparente, moldado, com tampa em vidro verde transparente. Corpo da garrafa com decoração gravada. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1950 ou 1960.

 

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29
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Pequena jarra em vidro branco transparente, soprado livremente e gravado, e base octogonal em vidro preto opaco, moldado. Aplicação de contas em prata moldada na junção. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1940 ou 1950.

 

   Uma das características do vidro português produzido durante o período Art Déco foi a combinação de vidro de distintas cores numa mesma peça, mas em componentes diferenciados. Habitualmente, produziam-se as bases de jarras e jarros em vidro preto (de facto, vidro castanho escuro ou ametista, quase opaco, dando a impressão de ser preto), às quais se aplicava o corpo da peça. Para além do preto, as outras cores predominantes, transparentes, eram o verde, o azul, o castanho e o rosa salmão.

 

Jarra em vidro verde transparente, soprado livremente e pintado a esmalte, e base em vidro preto opaco. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1940 ou 1950.

 

   As peças assim produzidas recebiam uma decoração que na maior parte das vezes era gravada ou pintada a esmalte, embora pudessem surgir peças tratadas parcialmente a jacto de areia ou peças, como acontecia com as simples tampas das garrafas licoreiras mas  também com vidros de maior prestígio, lapidadas.

   A decoração poderia ser essencialmente abstracta e modernista, como se constata na primeira imagem, mas também poderia representar as tradicionais pinturas a esmalte com florinhas e ramagens, evocando outras vezes temáticas consagradas da Arte Nova, como a famosa rosa escocesa de C. R. Mackintosh (1868-1928).

   Uma última característica complementar era a aplicação de pequenos colares de prata moldada na zona de junção dos componentes de cores diferentes.

 

Jarro em vidro branco transparente, soprado livremente e gravado, e base em vidro preto opaco, moldado. Aplicação de contas em prata moldada na junção. A decoração gravada evoca claramente a famosa rosa escocesa de C. R. Mackintosh. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1940 ou 1950.

 

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24
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Jarra em vidro "doublé" branco transparente, moldado. O interior da peça, entre as duas camadas de vidro, foi decorado com tinta rosada escorrida e o exterior foi dourado. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1950.

 

   A produção de peças em vidro "doublé", técnica em que se sobrepõem duas camadas de vidro de cor diferente ou duas camadas de vidro branco transparente, foi aperfeiçoada na Europa central durante o século XVIII, época em que o denominado zwischengoldglas (processo em que a decoração a ouro era inserida entre duas camadas de vidro branco transparente, dando uma sensação de tridimensionalidade) era sinónimo de perícia vidreira, elegância e luxo.

  

Jarra em vidro "doublé" branco transparente, moldado. O interior da peça, entre as duas camadas de vidro, foi decorado com tinta esverdeada escorrida e o exterior foi dourado. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1950.

 

   Durante o final do período Art Déco na indústria vidreira portuguesa, verificou-se uma tendência para aliar as características escultóricas do vidro moldado às possibilidades decorativas que o "doublé" de vidro branco transparente permitia. Assim, surgiram peças características da época que apresentavam uma decoração efectuada com tinta escorrida entre as duas camadas de vidro branco, evocando uma decoração que tinha atingido grande expressão na cerâmica portuguesa de épocas anteriores, como aquela que era característica das Fábrica Bordalo Pinheiro, San Rafael, e outras, nas Caldas da Rainha.

   Essas peças apresentavam ainda uma decoração complementar, exterior, a ouro, com motivos que, frequentemente, se afastavam já das características da gramática Art Déco, particularmente daquela que se traduzia na apresentação de flores ou formas vegetais de grandes dimensões

  

Jarra em vidro "doublé" branco transparente, moldado. O interior da peça, entre as duas camadas de vidro, foi decorado com tinta esbranquiçada escorrida e o exterior foi dourado. A decoração evoca violetas estilizadas, características do período Art Nouveau, em França, durante finais do século XIX. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Década de 1950.

 

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22
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Jarra em vidro azul transparente, moldado, com o exterior tratado a jacto de areia e gravado. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

    Como já foi referido anteriormente, a adopção generalizada de flores estilizadas de grandes dimensões na decoração do vidro moldado foi uma das características do estilo Art Déco em Portugal.

   As técnicas utilizadas nessa decoração eram, essencialmente, o tratamento das superficies exteriores do vidro a jacto de areia, a fim de proporcionar um acabamento mate, e a gravação à roda.

 

Jarra em vidro verde transparente, moldado, com o exterior tratado a jacto de areia e gravado. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

  

   As cores predominantes no vidro transparente com esta decoração eram o azul, o rosa, o rosa salmão e o verde. O vidro branco transparente eram geralmente tratado quimicamente, por forma a adquirir o popular tom "casca de cebola", sendo depois gravado ou tratado a jacto de areia

 

Jarra em vidro azul transparente, moldado, com o exterior tratado a jacto de areia e gravado. A decoração floral junto à base evoca claramente a gramática decorativa dos frisos egípcios. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

   Embora a influência da gramática de decoração egípcia já se tivesse afirmado no início do século XIX com as campanhas napoleónicas (atente-se nalguns detalhes do estilo Império e no famoso serviço egípcio de porcelana manufacturado por Sèvres) a descoberta do túmulo de Tuthankamon, em 1922, veio despoletar uma redobrada vaga de decoração evocativa do estilo egípcio em toda a Europa. 

   Esta influência manifestou-se também na América, surgindo aí paralelamente à recuperação de aspectos relacionados com as culturas nativas, como a dos Marajoaras, no Brasil, ou a dos Pueblo, nos Estados Unidos. 

 

Caixa oval em cristal gravado, com tampa em metal branco cinzelado e aplicação de uma esfinge. Esta caixa apresenta na tampa uma decoração característica do estilo Império, com clara referência à decoração egípcia, e uma decoração floral gravada no vidro que evoca os ramos de louro característicos do período imperial francês. Peça provavelmente produzida em França. Primeiro quartel do século XIX.

 

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17
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Estatueta em vidro mate, branco transparente, moldado, com a legenda "1140 / D. Afonso Henriques / 1940" inscrita na base octogonal. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande, em 1940.

 

   A utilização de moldes na indústria vidreira permitiu ainda a produção generalizada de estatuetas e figuras, que durante o período Art Déco foram executadas quer em acabamento brilhante quer em acabamento mate. Este último acabamento tornou-se extremamente popular devido ao sucesso das criações de René Lalique (1860-1940), um francês cujas peças de joalharia tinham sido já expoente da Art Nouveau na viragem do século e cujo design para vidro veio epitomizar muita da elegância e do luxo Art Déco. O aspecto mate do vidro obtinha-se quer através do jacto de areia quer através da imersão em substâncias ácidas, tratamento que no caso de Lalique e do vidro produzido por Sabino, em Itália, para mencionar apenas alguns, era ainda associado, por vezes, ao vidro de reflexos opalinos.

   Esta produção representava em grande parte figuras do reino animal, área em que era habitual o aparecimento, em vários países, de réplicas com pequenas variantes das criações mais famosas de Lalique e de outros designers de prestígio. Em Portugal, foram também produzidas peças que evocavam aspectos da nacionalidade ou da religiosidade, como as estatuetas de D. Afonso Henriques, contemporâneas da grande Exposição do Mundo Português de 1940, ou de Nossa Senhora de Fátima.

   A nível internacional, peças moldadas de aspecto eminentemente escultórico foram ainda divulgadas pelas grandes marcas da indústria de perfumaria, como Coty, que frequentes vezes encomendava frascos exclusivos a designers consagrados.

 

   

Figura em vidro branco transparente, moldado, representando um bulldog (à esquerda). Figura em vidro mate, branco transparente, moldado, representando uma lebre (à direita). Réplica, com base diferente, hexagonal, de uma famosa figura criada por René Lalique (1860-1940). Peças provavelmente produzidas na Marinha Grande, em meados do século XX.

 

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15
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Jarra em vidro branco transparente, soprado livremente, decorado a esmalte. Apesar da preponderância dos típicos tons laranja Art Déco, a decoração evoca ainda os motivos florais de influência japonesa que se popularizaram na Europa durante a segunda metade do século XIX. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

   O eventual predomínio da decoração gravada à roda, com padrões de estilo Art Déco, não obstou a que as fábricas da Marinha Grande continuassem a produzir peças decoradas a esmalte, muitas vezes evocando a influência dos motivos japoneses que atingiram a Europa depois da abertura forçada do Japão ao Ocidente e obtiveram particular sucesso após a Exposição Universal de Paris de 1867.   

 

Jarrão (30,5 cm de altura) em vidro branco transparente, moldado, com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Este jarrão foi posteriormente decorado em policromia, a esmalte. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

   Quando essa decoração a esmalte surgia com motivos eminentemente derivados da gramática Art Déco, era frequente encontrar peças moldadas de grandes dimensões, combinando tal decoração com o tratamento químico que conferia às peças o acabamento conhecido como "casca de cebola".

 

 

Jarra (25,8 cm) em vidro branco transparente, moldado, com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Esta jarra foi posteriormente decorada a esmalte. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

   Em breve, porém, uma outra técnica que pretendia apostar novamente no aspecto escultórico das peças, dispensando qualquer outra decoração, passou a ser utilizada com frequência. Sendo embora uma técnica herdada de épocas anteriores, ganhou novas possibilidades com a predominância do vidro moldado.

   O vidro "doublé", que combinava duas camadas de pasta de vidro com cores diferentes, juntou-se assim à decoração "casca de cebola" para caracterizar o vidro português do período Art Déco.

 

Caixa em vidro branco transparente, moldado, com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Esta caixa apresenta ainda o interior com uma camada de vidro branco opaco, técnica conhecida entre os vidreiros da Marinha Grande como "doublé". Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

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11
Jan08

Aspectos do Vidro em Portugal no Século XX

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Pequena jarra em vidro azul transparente com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

   A produção de vidro moldado permitiu obter, em meados do século XX, um conjunto enorme e heterogéneo de formatos nas peças de vidro decorativo, particularmente nas jarras, formatos esses que se tornaram na imagem de marca do vidro português durante o período Art Déco da indústria vidreira nacional, o qual se iniciou na década de 20  e se estendeu até à década de 50.

   Obedecendo ao princípio conservador e  revivalista da representação portuguesa na Exposição de Sevilha de 1929 (Portugal optara por uma presença faustosa na exposição de Sevilha, em detrimento de Barcelona), a decoração a esmalte dos copos que Raul Lino (1879-1974) desenhou para esse certame focava os símbolos tradicionais de Portugal, incluindo a Cruz de Cristo. Esses copos de pequenas dimensões, em vidro soprado livremente, apresentam um formato que remete para a herança de épocas anteriores, evocando a famosa medida de um dedal (thimble glasses, em Inglês) de tradição britânica.

   Mas já no fim dessa década, o vidro soprado livremente cedeu perante o uso crescente e generalizado dos moldes, a que se veio juntar uma aplicação mais frequente e consistente de uma emulsão química no exterior das peças, de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Esta técnica (que originou o vidro conhecido em Inglês como carnival glass), embora já viesse do séc. XIX e tivesse sido anteriormente usada em Portugal, atingiu efectivamente o auge de produção neste período.

 

  

À esquerda, pequena jarra em vidro branco transparente decorada a esmalte, com o carimbo circular, impresso a tinta branca na base,  "Czeskoslovakia". Checoslováquia, segundo quartel do século XX. À direita, pequena jarra em vidro branco transparente com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Esta jarra foi posteriormente submetida a um tratamento a jacto de areia para obter o efeito mate que serve de fundo às flores estilizadas. Finalmente, foi ainda decorada a esmalte. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

   Embora a reprodução de vidro em moldes permitisse a existência de peças que se podiam afirmar exclusivamente pelas suas formas e valor escultórico, verificou-se que a produção de peças sem qualquer outra decoração que não fosse a "casca de cebola" foi relativamente limitada.

   Encontram-se, de facto, peças que apresentam apenas esta decoração sobre o vidro branco transparente, ou mesmo sobre vidro colorido transparente, como o azul, procurando conceder ênfase à forma, mas a verdade é que a produção acabou por sucumbir ao eventual conservadorismo do gosto vitoriano pelas florinhas e à tradição da Boémia (nesta altura, já Checoslováquia) de pintura a esmalte.

 

Jarra em vidro branco transparente com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Esta jarra foi posteriormente decorada a esmalte. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

 Contudo, a reprodução mais ou menos fidedigna e realista de flores e vegetação veio a coexistir com uma decoração de flores e vegetação mais estilizadas, em que flores e folhas assumem maiores dimensões relativamente à superfície total da peça. Esta representação floral passou assim a acompanhar a tendência Art Déco do formato das peças.

   Esta maior volumetria da decoração vegetal permitiu, assim, produzir peças em que a harmonia e elegância dependiam essencialmente do formato da peça e do complemento, ou do contraste, que o tratamento a jacto de areia, com o seu aspecto mate, ou a gravação à roda, com os seus sulcos, vinham trazer ao vidro. 

 

Jarra em vidro branco transparente com o exterior tratado quimicamente (flashed glass, em Inglês) de modo a obter o efeito alaranjado e irisado popularmente conhecido como "casca de cebola". Esta jarra foi posteriormente submetida a um tratamento a jacto de areia, para obter o efeito mate que serve de fundo às flores estilizadas, e gravada à roda para conseguir os cortes de efeito decorativo sobre esse fundo mate. Peça provavelmente produzida na Marinha Grande. Meados do século XX.

 

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