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04
Jul07

Autógrafos - Reis Ventura

blogdaruanove

 

Reis Ventura (1910-1988), A Grei (1941)

Capa de Rui Vieira da Costa (datas desconhecidas)

 

 

Reis Ventura (1910-1988).

   Reis Ventura esteve involuntariamente envolvido em 1934 numa célebre polémica sobre galardões literários, quando o seu livro A Romaria (que assinou como Vasco Reis) obteve o prémio Antero de Quental do SPN. Inicialmente, a obra de um outro escritor tinha sido preterida e, aparentemente, só a intervenção pessoal do director do SPN, António Ferro (1895-1956), apaziguou o clima de contestação que se gerou – através da sua intervenção, nesse ano foram concedidos, excepcionalmente, dois galardões ex-aequo. O livro preterido tinha sido Mensagem, de Fernando Pessoa (1888-1935).

   Tendo abandonado a vocação sacerdotal na década de 1930, Reis Ventura fixou-se em Luanda, Angola, onde veio a publicar o seu segundo livro, A Grei (cuja edição refundida receberia em 1964 o título Soldado que Vais à Guerra). Embora nas suas obras iniciais tenha evidenciado preferência pela poesia e pela realidade portuguesa da então metrópole, Reis Ventura notabilizou-se pela escrita em prosa que retratou a realidade angolana da época, nomeadamente através da colectânea de narrativas Sangue no Capim (1962 e 1963), da colectânea de contos Cidade e Muceque (1970), e dos romances Quatro Contos por Mês (1955), Fazenda Abandonada (1965), Caminhos (1965) e Engrenagens Malditas (1965), entre outros. Publicou também um romance de ficção científica, Um Homem de Outro Mundo (1968), em que o protagonista, Thull, um ser do planeta Mil, efectua um périplo pela Terra depois de aterrar nos arredores de Luanda.

   Escritor cuja produção foi sempre conotada com a defesa do Estado Novo e do regime colonial, Reis Ventura é actualmente um autor marginalizado e esquecido, tanto em Angola como em Portugal. De A Grei, uma elegia ao povo, como o título deixa transparecer, transcrevem-se as três primeiras estrofes:

 

   "Primeira Parte – Friso de Almas

 

    O Ti-Zé

 

    Os seus olhos são olhos portugueses,

    duma clara viveza e formosura;

    olhar firme e leal, de tam afeito

    a olhar sempre a direito

    a vida

    tantas vezes

    batida

    pelas vagas da amargura...

 

    Olhos de português – olhos de artista,

    de terem sempre à vista

    essa beleza

    da Virgem-Natureza,

    suave, e doce, e meiga como a lua;

    essa carne da terra

    que, no seu ventre, encerra,

    a vida forte e  bela, verdadeira e nua;

    e, em frémitos de amor,

    é bondade que alegra

    a face duma pedra

    e o cálix perfumado duma flor...

 

    – Olhos de português... as mãos bem calejadas,

    feridas ao contacto das enxadas,

    são as mais dignas, preciosas, mãos

    de todos nós, irmãos

    pela alma imortal, dentro do ser

    da nossa humanidade;

    são as mãos do trabalho, as virgens da bondade,

    as mais puras e dignas de viver..."

 

Capa de Neves de Sousa [sic; provavelmente, Albano Neves e Sousa, 1921-1995]

 

© Blog da Rua Nove

13
Jun07

Autógrafos - Alice Ogando

blogdaruanove

 

Alice Ogando (1900-1981), Marias da Minha Terra (1934)

Capa de Luís Dourdil (1914-1989)

 

 

Alice Ogando (1900-1981)

   Tradutora e autora de inúmeros originais e adaptações de teatro que marcaram a rádio portuguesa até ao início da década de 1970. Embora tenha publicado alguma poesia, foi de facto na produção de dramaturgia radiofónica que Alice Ogando se salientou durante décadas. Esteve casada com André Brun (1881-1926).

   Do seu volume Marias da Minha Terra (1934) transcrevem-se duas poesias, que evidenciam claramente a proximidade da autora face à política nacionalista do Secretariado de Propaganda Nacional, fundado um ano antes:

 

Maria da Conceição 

 

Maria da Conceição,                              Teu corpo, só bem se ageita

Vi-te ontem na procissão                        Á larga saia bem feita

E duvidei do que via,                              Que ás formas te dá esbelteza,

Pois quando por ti passei,                       E na cabeça formosa,

Olho em volta e... – reparei                  Em vez d'um chapeu de rosa,

Que toda a gente se ria                           A chita bem portuguesa.

 

De ti. Sim, de ti, cachopa,                       Desce dos saltos, donzela

Seja embora a tua boca                          E calça atua chinela

Vermelha como a romã,                         Que tanto te alinda o pé.

Embora a face trigueira                           A gente deve, na vida,

Tenha um rosado á maneira                    Não andar nunca iludida,

De saborosa maçã,                                 E ser apenas quem é.

 

Embora o corpo delgado                        Maria da Conceição,

Lembre um lírio delicado                        Sai-me já da procissão,

E tenhas um lindo olhar,                          Pois até nosso Senhor

Eu juro que foi de ti,                               Se te vê d'essa maneira,

Que todos riram e eu ri                           Sendo embora de madeira

Quando te vimos passar.                         Pode fugir do andor...

 

Maria da Conceição,                               Calça a chinelinha, calça.

Ou tu perdeste a razão,                            Põe o lenço de Alcobaça,

Ou então foi bruxaria!                              E a saia de flanela,

Um chapeu n'essa cabeça!                       Teu negro chal' de tricana

Mas tu queres que eu endoideça,           Pois tu és ribatejana!

Oh! minha pobre Maria                            Pois tu, Maria, és aquela

 

Da Conceição?! mas que horror...            Nascida nesta paisagem,

e dize cá, por favor                                  Creada com esta aragem

Quem te vestiu esse fato,                          Que faz a mulher formosa,

Que o corpo te escangalhou,                     E em paisagem bravia,

Que as ancas te deformou,                        Nunca pode ir bem, Maria,

dando-te um vago ar de pato                    Esse chapeu, essa rosa.

 

Marreco! Ai, não, Maria,                          Volta depois. Sem vaidade.

Decerto ninguém diria                                Eu amo a simplicidade,

Vendo-te na procissão,                             Gosto de ti sem mentira,

Que tu és certa pequena                            Sem pose, sem presunção,

De linda cara morena,                                Maria da Conceição

Maria da Conceição!                              De Vila Franca de Xira!

 

 

Marias da Minha Terra

 

Essas Marias tafues                                   E aquela que vindima                    

Que passeiam no Chiado                           Desde manhã ao sol pôr

Com seus vestidos azues                            A quem o trabalho anima

E pesito bem calçado,                                Por amor do seu amor

 

As unhas côr de tomate,                            Essa que lava cantando

Sobrancelhas a carvão,                             Cantigas ao desafio,

A linda bôca escarlate                               Suas máguas segredando

E vazio o coração,                                    Ás verdes águas do rio.

 

Não são como tu, Maria,                          Aquela de loira trança

– Marias da minha terra –                         Como uma espiga doirada,

da Senhora da Agonia                              Que sonha amor e esperança

E mais do Senhor da Serra,                       Em noite de desfolhada.

 

Do Penedo da Saudade,                            E tu, Maria da Graça,

Das eiras, da desfolhada,                           E tu, Maria do Ceu,

São Marias da Cidade,                              Que ninguem na aldeia calça

– Não são Marias nem nada.                     Sapatinho igual ao teu,

 

Tu sim, que passas airosa                           Marias todas verdade,

Minha linda moleirinha                                Marias só – coisa pouca –

Mais branca que a branca rosa                   Apenas simplicidade,

Tão branca como a farinha.                        Coração ao pé da boca.

 

E tu, que passas ligeira,                               Marias que passam vidas

De tamanquinha no pé,                                Inteirinhas a rezar

A Maria mais trigueira                                 Pelas alminhas perdidas

Da praia da Nazareth.                          Por sôbre as águas do mar.

 

Essa de saia rodada                                    Quiz cantar o vosso encanto,

Como uma rosa em botão,                          Toda a alegria que encerra

A quem já vejo brilhar                                 Este nome, que é um canto

Nos olhos, o coração.                                 Em louvor da nossa terra!

 

Alice Ogando, Bonecas e Pinguins (Teatro, 1931)

 

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03
Mai07

António Ferro e as Pousadas dos Anos 40

blogdaruanove

Pousada de S. Gonçalo, Marão (gravura publicada em 1945)

 

   Sob a direcção de António Ferro (1895-1956), o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN; a partir de 1944, Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, SNI) dinamizou a oferta turística durante o início da década de 1940, publicando a revista Panorama, promovendo a edição de vários roteiros e guias turísticos em diversas línguas e, essencialmente, estabelecendo uma rede nacional de pousadas.

   Em 1945, o Ministério das Obras Públicas e Comunicações havia já concluído a construção ou remodelação de oito edifícios, que se encontravam a funcionar em pleno: pousada de Santa Luzia, em Elvas (a primeira a ser inaugurada); pousada de S. Gonçalo de Amarante, no Marão; pousada de Sto. António, em Macinhata do Vouga, Águeda; pousada de S. Martinho, em S. Martinho do Porto; estalagem do Lidador, em Óbidos (em regime especial de concessão); pousada de Santiago do Cacém; Pousada de S. Brás, em S. Brás de Alportel, e pousada de S. Lourenço, em Manteigas, na Serra da Estrela. 

   Actualmente, quase todas estas pousadas integram a cadeia hoteleira das Pousadas de Portugal (http://www.pousadas.pt/historicalhotels/PT). 

 

Pousada de Santiago do Cacém (gravura publicada em 1945)

 

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