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Anúncio publicitário com design de autor não identificado. Década de 1930.
© Blog da Rua Nove
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Caricatura de Pedro Cid, O Vira, n.º 1, 1 de Março de 1906.
Adelina Abranches (1866-1945) estreou-se como actriz logo em 1871, no teatro D. Maria. Celebrizou-se como intérprete de papéis masculinos e de peças vicentinas, tendo alcançado uma posição notável entre os actores do seu tempo. Já no fim da sua carreira foi distinguida com o colar da Ordem de Santiago.
Sobre ela, e o seu desempenho na peça Ressurreição, escreveu o crítico teatral Braz Burity (Joaquim Madureira), no seu livro Impressões do Teatro: 1903-1904 (1905):
"Adelina Abranches – uma organisação de artista inculta e espontanea num corpo rachytico e minusculo de boneca – com largo cadastro de dramalhões no Principe Real a zigzaguiarem-lhe, em borrões de plebeismo e faulhas de talento, a curva ascensional da sua carreira artistica, é a mais modelar vocação dramática que as plateias populares teem entorpecido, e, tendo vincado na Arte radiosa e pujante das Privilegiadas, o papel de Yanetta, no Robe Rouge, e a sahida do commissariado na Rosa Engeitada, é hoje, entre a gente nova da troupe de S. Luiz a mais baixa das mulheres e a mais alta das artistas, a de menores classificações nos canhenhos da claque e a de maiores recursos na simplicidade dos processos. Tem uma individualidade e impõe-na, ao lado das que têem figurinos e os decalcam."
Adelina Abranches no último acto da revista À Procura do Badalo.
Note-se a indumentária de influência Arte Nova, celebrizada pela actriz francesa Sarah Bernhardt (1844-1923) e pelo ilustrador checo Alphonse Mucha (1860-1939).
"Com uma voz destestavel e uma figura liliputiana, sem educação artistica de conservatorios e de viagens á Estranja, aguentou e defendeu o seu papel da Resurreição, complexo e cheio de gradações, tendo sido, á força do talento, ingenua e lilial [?] na Katucha , sordida e bestial, á custa de originalidade e de estudo, na Maslowa, nuançando scena a scena, phrase a phrase, gesto a gesto, toda a evolução daquella alma de mulher: da castidade infantil á luxuria do alcouce; da inconsciencia da prisioneira ao renascer pelo amor, na enfermaria; e, á resurreição, pelo sacrificio, na Siberia."
[Como é óbvio, a transcrição respeitou a grafia original.]
Adelina Abranches contracenando com sua filha, Aura Abranches (1896-1962),
na peça Duas Vidas, que Charles Oulmont escreveu propositadamente para a actriz.
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Chaby Pinheiro (1873-1933).
Actor de um teatro que alguns críticos classificam como ligeiro, Chaby Pinheiro foi também intérprete de peças que os teatrólogos ortodoxos classificam como mais respeitáveis, da autoria de Henrik Ibsen (1828-1906) e Émile Zola (1840-1902). Tendo estado ligado ao Teatro Nacional D. Maria II, teve imenso sucesso em Portugal e no Brasil, aposentando-se em 1931. Em 1926 tinha assistido à inauguração de um teatro com o seu nome, projectado por Ernesto Korrodi (1870-1944) muitos anos antes, no Sítio da Nazaré. (Consulte um breve texto sobre o edifício em http://www.cm-nazare.pt/espacos/chaby.htm.)
Da sua influente imagem no teatro português do início do século XX ficaram registos que se podem consultar na imprensa da época, bem como na obra póstuma Memórias de Chaby, publicada por Tomaz Ribeiro Colaço e Raúl dos Santos Braga em 1938.
Caricatura de Chaby Pinheiro por Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920).
Da sua vida e da sua relação com amigos e actores ficaram ainda registados diversos episódios pitorescos, como este que se transcreve da obra de Beatriz Costa (1907-1996), Eles e Eu (1990):
"O grande actor Chaby Pinheiro tinha uma especial admiração por Ângela Pinto, que foi a maior artista da sua época. Ângela, sempre que se referia a Chaby, chamava-lhe o «cara de cu». Um dia o grande artista chamou-a e fez-lhe sentir a vulgaridade do seu vocabulário: «Ângela, tu és uma artista amada e respeitada pelo povo, não o podes desiludir com as tuas irreverências. Acaba com essa brincadeira de, em pleno Chiado, de um passeio contrário, dares um grito: 'Adeus ó cara de cu...' » Ângela, que era humilde, como o devem ser todos os famosos, ouviu e passou a respeitar o seu mais que ilustre colega. Um dia ao passar no Rossio viu Chaby numa esplanada a chupar uma carapinhada por uma palhinha cor-de-rosa... Olhou e não aguentou aquele espírito extraordinário, que foi só dela, numa gargalhada, para que ele ouvisse, atirou com esta: «... a tomar o seu semicupiosinho!...» Sobre a Ângela Pinto existem centenas de respostas e anedotas. Não creio que tudo seja autêntico..."
Dedicatória do poeta brasileiro Olegário Mariano (1889-1958) a Chaby Pinheiro.
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